Kaplan & Marchand.

Espaço virtual destinado à divulgação da produção artística de Alberto Kaplan.


sábado, 15 de julho de 2017

Performance do artista Alberto Kaplan inspira documentário de curta metragem.

Centro Cultural Laurinda Santos Lobo - Santa Teresa, Rio de Janeiro. 2016.
Postado por Manoel Marcondes Neto às 09:27
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Alberto Kaplan

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Manoel Marcondes Neto
Colaborando na divulgação do trabalho de Alberto Kaplan desde 1982.
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A pintura vicejante - Mauro Trindade (O Globo).

Qual é o sentido da arte? Vemos o mundo como ele é ou como pensamos que ele é? Existem fronteiras entre arte e vida? Há algum sentido em uma existência que se precipita para a morte? Não existem perguntas fáceis para o íntegro Alberto Kaplan, que transformou seu trabalho com óleo e aquarela em uma pesquisa artística e filosófica que se estende por mais de 30 anos. E aqui integridade não é um elogio. É uma condição, pois as questões deste pintor não são epidérmicas. São viscerais. Literalmente viscerais para um artista com a rara formação em Metodologia da Arte pela Universidade de São Paulo e em Oncobiologia pela UFRJ. Pois, para Kaplan, a arte não é um apêndice da vida, mas parte indissociável da própria vida, em uma coerência própria que a racionalidade ortogonal e formalista consegue apenas vislumbrar. O que lhe interessa são as curvas, as manchas, os sistemas metabólicos e estruturas orgânicas complexas que nutrem seu pensamento estético de maneira tão particular.

Mesmo tendo sido professor de pintores que se lançaram na Geração 80 e, na década seguinte, no Museu de Arte Contemporânea da USP e do Galpão do MAM carioca, Kaplan jamais pertenceu a qualquer grupo específico, a despeito de suas afinidades com a obra de alguns artistas e da amizade com outros. Seu trabalho permanece irredutível à própria condição humana, sobre a qual se debruça em um estudo que não é limitado pelas categorizações da arte. Tudo é pessoal e intransferível.

Até sua casa é uma extensão dessa interioridade profunda, em um repertório de excessos que constrangem as funções cotidianas de um lar. Mora com a mulher e seus incontáveis cães em um sobrado, em Santa Teresa, que possuem andares extras acrescidos com o tempo.

Curiosamente sequer sua rua é rua, mas uma longa escadaria que, mais do que passagem, sugere ascensão. O “museu do quarteirão”, como ele próprio a define, é um dos mais fantásticos espaços artísticos do Rio de Janeiro, possivelmente de todo o país. Sem sair da cidade, o artista angariou objetos dignos de qualquer coleção internacional, graças a uma sensibilidade rara e vasto conhecimento artístico. Longe da assepsia dos museus e galerias da modernidade, que domesticam o contato com a arte a uma interpretação unívoca, a casa remete aos gabinetes de curiosidades do século XVII, nas quais obras e artefatos aparentemente inconciliáveis residiam sobre o mesmo teto e a mesma curiosidade intelectual.

A contaminação mútua entre os objetos rompe com os limites cronológicos da História e obriga uma abordagem fenomenológica da arte.

Em refinada garimpagem, Kaplan reuniu centenas de objetos da arte mundial e da Natureza que se sobrepõem com perturbadora abundância. A experiência do “museu do quarteirão” assemelha-se à Merzbau, de Kurt Schwitters, que rouba os espaços cotidianos e transforma a própria casa em experiência estética. Ali tudo é imagem, história e sensação. Duas terracotas nok remetem ao Níger e ao Egito tinita. Numa pequena estela assíria, um falcão caça sua presa sob os olhos do cetreiro, ao lado da cabeça de uma leoa Síria perdida no tempo. Meandros regulares em cerâmica grega arcaica aproximam-se dos desenhos exatos da arte marajoara.

Esculturas de GTO e máscaras ticuna dividem o mesmo espaço carregado. Bonecos de Olinda ameaçam derrubar o teto, enquanto besouros chifrudos jazem tranquilos em lápides de acrílico. A imaginária barroca, em talha policromada, se esconde atrás de bonecas fálicas Carajás. Deuses hindus e da Birmânia convivem no mesmo panteão com cerâmica mochica e suas cenas sexuais. Conus cedunolli, Littorina zebra e outras conchas impossíveis parecem ter fugido de um bico de pena de Man Ray, descoberto por acaso dentro de um livro de Paul Éluard. Braque e Picasso reencontram-se em gravuras vizinhas de parede de uma obra do amigo Gonçalo Ivo.

“Todo vazio é pretensioso”, sentencia Alberto Kaplan, o anticlássico perfeito que prefere a generosa abundância à economia de recursos de boa parte da produção artística da atualidade. Antes mesmo da feitura da obra, seu trabalho se distingue pelo processo. Não há aqui um plano lógico, um projeto no qual a ideia pastoreia a emoção e ordena os elementos visuais numa arte do espaço. Sua poética é da saturação e da eloquência plástica, do movimento expressivo exercitado em grandes gestos, nos quais a pulsão é preponderante. Um jorro de lembranças e sentimentos acumulados que atinge massa crítica e explode na tela, em uma subjetividade que renuncia a coesão entre imagem e objeto. Seu abstracionismo aproxima-se de Kandinsky, não pelo estudo sistemático dos elementos visuais, mas pela força de seus significantes, abertos a múltiplos sentidos conforme a empatia do espectador, numa comunicação que prescinde das referências do mundo objetivo.

Em suas pinturas, há uma iminência do figurativo que nunca se realiza. Ou, no máximo, é transfigurado em visões simultâneas da memória. É possível vislumbrar uma concha, um ouriço, a vaga lembrança de uma face, um torso, um galo ou um peixe em suas telas. Mas todas estas imagens estão em suspensão, numa reflexão profunda da realidade que nos cerca e que se realiza sob a força do pensamento. Há uma continuidade entre espírito e matéria que revela não apenas a estrutura mental do artista, mas os próprios alicerces do real. Somente através da pintura é que se objetiva o mundo, numa arte que jamais representa, mas expõe o processo mental de construção da realidade.

A representação pictórica é substituída por um ato de consciência. Toda sua perspectiva não é linear, mas variada e cromática, com a profundidade alcançada na própria cor, em camadas. Não há uma localização ideal do observador, onisciente e apartado da imagem que contempla. Não existe fora em Alberto Kaplan, mas apenas dentro.

Sua pintura convoca as forças primitivas da existência e procura religar-se a um universo vicejante que acolhe todos os seres. É anticlássico não pela irracionalidade, mas por uma razão mais abrangente, numa lógica vital e espiritualizada. Suas telas não se submetem ao corte racional da linha e do plano, mas estão coaguladas em grandes campos de força e movimento.

Nesse sentido, há uma filiação à action painting de Pollock e de Rothko, por romper com o projeto, conceito caro a uma estética inserida na coerência industrial de produção, distribuição e consumo. A arte de Alberto Kaplan não pode ser mensurada em valores de moda. Ela não se inscreve como estilo, no sentido de não pertencer a qualquer geração. Suas referências estão na abstração lírica internacional através de Schnabel, Jorn, Alechinsky e, especialmente, Bram van Velde, o que não quer dizer que se espelhe nela. É uma poética sem simulacros e sem paródias, na qual todas as referências devem ser buscadas no próprio universo do artista, alijado das redes eletrônicas de comunicação e de suas imagens banais tematizadas pela arte, do Pop aos dias de hoje. Seu mergulho psíquico repele o caráter mercadológico de movimentos artísticos que se encerram com a obsolescência do produto.

Por isso mesmo, é significativo que trabalhe com aquarela e óleo, considerados passadistas ante as formas mais recorrentes da arte contemporânea, como o vídeo e a instalação. A atualidade e a permanência da pintura, frente aos novos media – mesmo que alguns novos tenham mais de 150 anos, como a fotografia, raiz de toda arte tecnológica – subsiste em sua capacidade de apreender e refletir o real através de suas próprias técnicas expressivas, nas quais seus problemas específicos não podem ser simplesmente transferidos para outros materiais.

Seu trabalho se assume como uma pesquisa obsessiva. É um estudioso da forma, da textura e da cor, que procura sistematicamente nas specie mille dos seres vivos, minerais e artefatos. A opção pela pintura e o embate diário com seus materiais ganha relevo neste contexto.

Profundo conhecedor da aquarela, Kaplan foi curador de importantes mostras com artistas brasileiros e pintores viajantes que utilizavam aguadas ou desenhos aquarelados e que desmentem a posição subalterna desse processo ante o óleo e o acrílico. A transparência, os coloridos profundos, a riqueza e a interposição de tons sobre a cor do próprio suporte são exploradas pelo artista em obras de um aveludado rico. Os óleos, por sua vez, apresentam as mesmas mineralidades e tonalidades misteriosas que a aquarela pode alcançar, sem que haja, porém, a tentativa de conquistar resultados idênticos em técnicas distintas.

A despeito de sua completa assimetria, existe uma unidade forte nas imagens aglutinadas nas telas repletas de tinta. São obras que exigem mais do que um olhar apressado para se constituírem visualmente. É preciso a colaboração do espectador para redescobrir a transfiguração poética da pintura. Mesas e garrafas, cadeiras e paisagens livram-se dos limites da matéria e se recombinam cromaticamente a outros objetos ante os olhos do espectador.

Em uma de suas aquarelas nota-se como as bordas do papel são cuidadosamente preenchidas. Noutra, contornos misturam fundo e figuras, enquanto as cores e luzes são rebatidas e atravessadas por novos reflexos. O horror ao vazio na obra de Alberto Kaplan exorciza a solidão, o silêncio e a morte. Sua filosofia da imagem descreve os ductos e redutos nos quais circula tudo o que é vivo, em um imperativo cinético da existência. Passagens e destinos, movimento e estabilidade. Tudo é devir.

Mauro Trindade é professor de História da Arte e jornalista.

Bibliografia

ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. COCCHIARALE, Fernando; GEIGER, Anna Bella. Abstracionismo Geométrico e Informal. RJ: Funarte, 2004. CUNHA, Almir Paredes. Dicionário de Artes Plásticas. Rio de Janeiro: EBA/UFRJ, 2005. DELARGE, Jean-Pierre. Dictionnaire des Arts Plastiques Modernes et Contemporaines. Paris: Grund, 2001. FERREIRA, Glória. Crítica de Arte no Brasil: Temáticas Contemporâneas. Rio de Janeiro: Funarte, 2006. PERLINGEIRO, Max (coor.). Antonio Bandeira. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2006.

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